terça-feira, setembro 11, 2007

Dois movimentos, duas medidas


Quase um mês depois de não permitir o ato ecumênico do Movimento Cívico pelos Direito dos Brasileiros, conhecido como "Cansei", em memória das vítimas do acidente com o Airbus da TAM, na Catedral da Sé, a igreja católica abriu as suas portas para a realização do 13º Grito dos Excluídos, convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na sexta-feira passada – dia da Independência.
O Grito reuniu cerca de 3.500 pessoas, entre militantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), entidades sindicais, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e partidos de esquerda – PSTU, PCB e PSol.
Constou do ato também um plebiscito sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, estatal vendida em 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso. O Santuário Nacional de Aparecida tomou uma decisão inversa: proibiu que o plebiscito fosse realizado no pátio da basílica e nas demais dependências da igreja.
O plesbiscito na Catedral foi autorizado por Dom Pedro Luiz Stringhini, que rezou a missa em lugar do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Depois, a marcha deixou a Sé e seguiu pela região central da cidade em direção ao parque da Independência, no Ipiranga.
Engajamentos – Já o ato do "Cansei", realizado em 17 de agosto para lembrar o primeiro mês do acidente em que morreram cerca de 200 pessoas, teve de ser realizado nas escadarias em frente à Catedral – e não no seu interior. Na ocasião, a igreja alegou não comungar do conteúdo político que sustentaria o movimento, embora os seus participantes destacassem o seu caráter eminentemente cívico.
Participaram do ato entidades de classe, desportistas como o nadador Fernando Scherer (o Xuxa), e diversos artistas, entre eles Hebe Camargo, Ivete Sangalo e Adriana Lessa.
Em nota, a Cúria Metropolitana de São Paulo esclareceu que o impedimento do uso da Catedral pelo 'Cansei' não partiu de Dom Odilo Sherer. "A Arquidiocese de São Paulo não desautoriza o movimento, mas deixa claro que não encabeça o protesto e nem participa de sua organização", informou nota da Cúria, na ocasião.
Para o Grito dos Excluídos, no entanto, a Catedral não apenas foi aberta, como a urna do plebiscito pela reestatização da Vale do Rio Doce teve um lugar de honra na manifestação: o próprio altar da Catedral.
Para o secretário do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos (DEM), o ato no interior da Catedral mostrou uma Igreja comprometida com forças que hoje apóiam o governo federal e os principais sindicatos. "É um engajamento que mistura Teologia da Libertação com sindicalismo e partido político. Quem é diferente deles, está fora", criticou Afif. "A Igreja está fazendo discriminação política ao incluir e excluir movimentos sociais", comparou o democrata.
O blogueiro e colunista da revista "Veja", Reinaldo Azevedo, também condenou a exploração política do plebiscito da Vale. "Os que usam o púlpito para fazer plebiscito sobre venda de estatais conspurcam a mensagem de Cristo", criticou. "Ou o papa Bento 16 – e, para informá-lo do que ocorre existe, entre outras fontes, a Nunciatura Apostólica – intervém pra valer na Igreja Católica no Brasil, ou a degradação, que já dura algumas décadas, vai continuar", acrescentou.
O advogado Luiz Flávio Borges D´Urso, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, de São Paulo, e líder do "Cansei", afirma que respeita a posição da Igreja.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP), segundo seu presidente, Alencar Burti, espera "um pronunciamento da autoridade máxima da Igreja" para então se manifestar. Ele acrescenta, ainda assim, que estranha "a participação da Igreja em movimentos que acirram a luta de classes".
O Diário do Comércio tentou contato com a assessoria da Cúria Metropolitana no final de semana, mas não teve retorno.
Por Sergio Kapustan

Um comentário:

Carlos Renato disse...

Reparem que a área em torno da Catedral da Sé é uma base do MST. Sempre que ando por ali vejo indivíduos com bonés ou camisetas desse movimento terrorista.